Enfermagem: o retrato da realidade
21 / Setembro / 2022
Raphael Monteiro de Oliveira, coordenador do curso de Enfermagem do Centro Universitário IBMR
Durante a pandemia da Covid-19, os brasileiros reconheceram o papel inegável da Enfermagem no contexto da saúde. Foram diversas as homenagens mundo afora, desde palmas nas janelas até estátuas de heróis. Todavia, somado ao merecido reconhecimento, faz-se necessário refletir acerca da sua atuação nas múltiplas dimensões do cuidado ao ser humano e não somente como um membro da linha de frente da assistência, além de reconhecer a baixa remuneração da categoria e, em algumas instituições de saúde, a precariedade das condições de trabalho.
Inicialmente, para abordar a dimensão de sua atuação, é preciso destacar o que foi descrito por nossa pioneira da enfermagem moderna, Florence Nightingale, que considerou a Enfermagem como a arte do cuidar, uma vez que, para realizá-la, requer-se uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso quanto a obra de qualquer pintor ou escultor. Essa relevante definição, há mais de um século, reforça a atuação intensa dos profissionais de Enfermagem em prol dos diversos propósitos de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde.
Corroborando a vasta dimensão da profissão, a enfermeira Wanda Horta aborda, em sua teoria, que a atuação da enfermagem visa satisfazer as necessidades humanas básicas. Ou seja, ser da equipe de Enfermagem requer dedicação e preparo rigoroso para observar, classificar e intervir nas possibilidades de melhoria ou recuperação das necessidades humanas básicas da sociedade.
Diante do que foi apresentado, cabe dizer que a equipe de Enfermagem é responsável pelo processo de cuidar, desde o seu planejamento ao atendimento direto à população, perpassando pelos diferentes níveis de complexidade da assistência. A diversidade de ações voltadas ao cuidado e o rigoroso trabalho técnico-científico validam o reconhecimento manifestado pela população brasileira a esses imprescindíveis profissionais, entretanto, existe um enorme desafio para a Enfermagem no que tange a valorização financeira.
Sobre essa vultosa valorização, é preciso destacar que a categoria trabalha em regime de plantão, atendendo a população em diferentes níveis de complexidade e nos mais diversos cenários existentes em nosso país. No entanto, apesar da sobrecarga de tarefas e a complexidade de prestar assistência no ambiente intra ou extra-hospitalar, a remuneração não condiz com sua habilitação e atuação profissional, levando esses trabalhadores a buscarem mais de um emprego para complementarem a sua renda mensal.
Em resumo, infelizmente, a valorização financeira não reflete a dimensão da profissão aqui apresentada. O retrato da realidade revela uma equipe exaurida pela sobrecarga de horas trabalhadas e a baixa remuneração, levando alguns profissionais a adoecerem em seus locais de trabalho. Por isso, queremos e agradecemos o reconhecimento da população, mas, acrescido a isso, faz-se necessário refletir sobre melhores condições de trabalho e de remuneração para nós, profissionais da saúde.